Toda noite quando deito, ouço as vozes do silêncio a me chamar.
São frias. Frias e firmes. Frias, firmes e familiares.
Fui apunhalado pelas costas por alguém que me beijou o pescoço e desapareceu antes de perceber-te. Não se pode buscar na escuridão da memória, momentos inexistentes de nosso passado. A confiança seria um sentimento belo se esta não fosse depositada em seres humanos. Procuro me lembrar dela quando me sinto triste, aquele vestido bordô se dissolvendo em meus braços na água da chuva. Aquele segredo vital e sujo guardado no fundo da velha gaveta trancada com a chave covarde da chantagem. Sinto que posso gritar e ouvir sozinho o meu pedido de socorro. Sinto que posso chorar, e morrer engasgado com meu próprio soluço.
Toda noite quando deito, sinto os braços da aflição a me enforcar.
São duros. Duros e doídos. Duros, doídos e dramáticos.
São os meus vícios que me mantem vivo, a chuva hoje me queima a alma, dilacera meus sentimentos, e eu gosto. Gosto da loucura. Gosto do pecado. Gosto da bela morena que me abraça com a navalha e arranca sangue dos meus olhos. Sangue este, que o velho amigo do recanto se recusou a assumir que arrancara. Mais eu sei. Eu sempre sei. Eu sei de tudo. As vozes do silêncio me contam. Me contam sobre você, sobre mim, sobre ela. Não tente se esconder, se a chuva te queima, as estrelas te observam, e elas não sabem guardar segredos. Sinto que posso me atirar do pico, e nenhum anjo virá me segurar. Sinto que posso correr, e tropeçar nas próprias mentiras que me perseguem.
Toda noite quando deito, vejo as sombras do desespero a me cegar.
São tensas. Tensas e tortas. Tensas, tortas e traumáticas.
Ela sempre sonhou em construir um castelo, mas as bruxas do porão nunca permitiram. Nada incomoda mais que a felicidade alheia, ninguém gosta de sorrir por você. A menina não teve seu castelo, mas teve seu príncipe, que lhe apresentou a vida, e te presenteou com a morte, embrulhada em um belo vestido bordô. Seria a dor do amor pior que a dor da morte? Para quem fica é claro. Morrer deve ser bom, nunca ninguém reclamou. O amor é o xeque. A morte é o xeque-mate. Afinal, como dizia o velho poeta inglês, todo desejo é um desejo de morte. Sinto que posso me jogar no mar, e a correnteza se recusará a me levar. Sinto que posso escrever uma canção e canta-la no meu próprio funeral.
Toda noite quando deito, sinto os sabores amargos da solidão a me enojar.
São azedos. Azedos e aguados. Azedos, aguados e alucinógenos.
Está chegando a hora de partir, alguém está pra chegar e não quero estar aqui quando isto acontecer. Ele vem pra trazer alegria e isso me embrulha o estomago. Quero estar sozinho quando tudo acabar bem. Eu sei o que ele sente por ela, as vozes do silêncio me contaram. Mas é segredo. Acho que vou tranca-lo na velha gaveta, junto com todo sentimento de culpa e a arma do crime. A garrafa verde ainda está cheia. Posso ver o seu reflexo. Agora sei quem é você. Siga seu destino e me mande para o inferno. Prometo que assim que puder, lhe mando uma correspondência. Mande um beijo a bela morena, diga-lhe que o seu sabor ainda reside em meu íntimo. Sinto que posso fugir, mas o céu cairá sobre mim. Sinto que posso exagerar, e apagar meus sinais na overdose do seu corpo.
Toda noite quando deito, sinto o cheiro de sexo a me asfixiar.
Não me importo. Sexo é a verdade. É vida. É o único prazer que o homem tem consigo mesmo. Talvez o mundo gire em torno disso. Pouco me importo. Não me interessa salvar o mundo. Só me interessa salvar você. Eles são todos ingratos, irão me crucificar de qualquer forma. Sinto que posso morrer, e nem mesmo você sentiria minha falta. E caso ressuscitasse ao terceiro dia, ainda sim, ninguém iria crer na minha palavra.
Comentar um texto seu, é uma tarefa bem dificil, esquecendo a semântica e falando como leiga sou apaixonda pela emoção que você carrega nas palavras, como o tudo e o nada são tão próximos nos seus textos.Sou sua fã incondicional,a espera dos próximos que virão! Gih
ResponderExcluirOOO Obinaa, eu não entendo o porque tá fazendo direito. UAHAUHAUAH.
ResponderExcluirEu amei seus textos, e acho que deveria investir nisso, porque voce é bom =)
marina ;)
Condicionados em um mundo onde prazeres e deveres se misturam ao que é levado em conta pelos olhos julgadores de um mundo parado no tempo, refletir sobre o mundo é não tentar entender mas ser chatos diante os olhos alheios que não compreendem as próprias mudanças.
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