quinta-feira, 31 de março de 2011

“O suicídio é a forma mais sincera de auto-crítica.”


Sente

Sente-se

Sinta-se só

Sinta sozinha

Sinta-se na solidão

Siga-me e sofra

Sonhe sim,

Sonhe sempre

Saiba ser somente sua,

Sua

E só.


Estou sóbrio. Cada segundo em minha mente é uma eternidade. Ah! Como eu queria ser mortal. A percepção de infinito é assustadora. É uma sensação de mal sem fim. Estou perdido no paraíso com tudo aquilo que odeio. Sinto sua presença, mas não posso tocá-la. Tenho uma corda, uma navalha e um antidepressivo. Tenho pressa, tenho ânsia e um desejo incontrolável de te ter como na última noite, se rastejando sobre o meu suor. Estou aflito. Pretendo deixar um bilhete à beira da cama pra quando você acordar. Chegou a hora. Estou cercado de epiléticos, catalépticos, aidéticos, morféticos e solitários. Estou cercado de condes, nobres, putas, mentirosos e enfermeiras. Estou cercado de pessoas me olhando e chorando.

- Não chorem. A lágrima é o combustível da melancolia.


Estou consciente. Por um minuto senti saudades de mim mesmo. Pouco me lembro de você, minha memória se apaga gradualmente. A voz doce e amiga da desconhecida do prédio da frente tocara na ferida. Não se pode recomeçar. Não se pode reinventar. A morte é a mais sensata das coisas, pois ela nunca volta atrás. Queria fechar os olhos e não enxergar a escuridão total. Queria não refletir sobre a escuridão. Queria poder descansar. Mas eu posso continuar. Quero me abraçar às ninfas e me atirar no lago congelado. Quero dormir com ela na sua cama, sem medo. Sem pudor. Quero atravessar os limites do profano, do mundano e do sagrado. Eu sou o Rei. Eu sou a Lei. Eu sou o Sol. Eu sou tudo porque tudo sou eu.

- Não gritem. Seus gritos me impedem de ouvir o canto dos anjos.


Estou morto. Morto e decepcionado. A morte não é o fim. Nem o comprimido, nem os cortes, nem a forca. Nada foi suficiente pra aliviar a minha dor. Só o prazer de poder admirar seu corpo nu sobre o tapete, e sua surpresa a me ver na janela, valeu o ato. Tranquei a gaveta por dentro e engoli a chave. A última noite foi inesquecível. Pra você. Não deixei o bilhete, mas deixei uma carta dentro da oitava edição de “Zaratustra”. Quem tiver a ousadia de ler Nietzsche, irá me entender. Do contrário eu serei uma mera recordação de mistério e reprovação. Morrer dói menos que a ingratidão, a falsidade e a hipocrisia. Ainda não encontrei a paz. Ainda não encontrei com Ele. Só encontrei a menina do trem, de rosto rosado, cabelos enrolados, vestimentas clássicas e olhar ameaçador. Ela que se foi sem nunca se explicar. Disse-me que em breve saberei de tudo.

- Não me conte. O mistério é o barato da vida. E da morte.


Estou certo. Vou afogar seu filho no açude. Te perseguir no labirinto. Arrebentar a porta a machadada. Me vestir de laranja e te violentar sistematicamente. Mutilar seu orgão na cabana. Iluminar e congelar. Esse é o meu lar. Ou o nosso. Talvez um dia eu revele o conteúdo da carta, somente pra você que agora lê esse relato. Mas pra isso você precisa continuar atento a tudo que escrevo. Tudo faz sentido. Tudo é um pouco de mim. Basta me seguir. E sobreviver, é claro.

- Não tema. O medo é o escudo dos incompetentes.


Nos traga à força

Nos traga a forca

Nos traga pra dentro do mais profundo desespero.

Se todos os caminhos te levam para o norte

Não pense,

Se jogue,

Bata asas

E morra com tudo aquilo que ainda não lhe foi tirado

A sua covardia.

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