A vida é um jogo de azar onde todos perdem. Os sonhos são combustíveis ilusórios que criam as regras e te fazem apostar aquilo que não tem. Não temos nada. Não somos nada. Simplesmente reflexos de experiências e sensações. Vivemos o jogo da morte. Brincamos com sangue e fugimos da insanidade, sem saber que ela é a suprema felicidade. Bendito seja o fruto da loucura e o curandeiro que o propagou. A terapia acabou, o espetáculo começou, chegou a hora de vencer a vida. Viver a morte e vender a alma.
Os lírios se despedaçaram, as pedras rolaram sobre Sísifo e destruíram o vilarejo. O velho casebre abandonado ainda guarda os segredos do milagre. O amor se foi nas águas ácidas do ribeirão. É preciso aceitar, o desejo do mundo é o inferno dos outros. Era noite quando colocaram a coroa de espinhos na cabeça do rei de copas. Era dia quando o cavaleiro da esperança se entregou ao desespero. Era domingo quando o filho da luz voltou pra escuridão. Era longe, e mesmo assim valia à pena.
O fogo queimou as crianças e elevou as almas. A beleza da tristeza sobrepôs à aflição da tragédia. Foi quente. Doloroso. Asfixiante. Aquela força sufocante encheu o pulmão, parou a respiração, aliviou a tensão dos músculos e se apagou. A injustiça dilacerou os corações inocentes e concedeu a redenção aos pecadores. O pecado é o renascimento da vida verdadeira, fértil e plenamente deliciosa. A força dos ventos traz a mudança, traz a dor e leva a esperança profana para o mais distante labirinto divino. Onde viver compensa. Onde não existe vida.
A vida é um acaso. A morte é o destino. A coincidência é o inevitável. A lógica é uma grande mentira. Os afogados voltaram com o fruto proibido e apagaram a pureza do jardim. Os lírios não existem mais. As árvores não possuem frutos. Possuem corpos, almas, espíritos, desespero, aflição e morte. A natureza da dor é a única natureza. O casebre destruído é o peito dos camponeses macabros. O segredo dos meninos é o erotismo perverso da composição humana. O aposto descreve o que todos já sabem. Joguemos com a vida e brindemos a morte.
Não sofras. A decepção só perpetua onde há esperança.